sábado, setembro 29, 2007

Re: [roteiro_de_cinema] Aplaudindo Tropa de elite

    A questão não é minha ótica pessoal... é mais abstrata. "Tropa de elite" traz uma critica a todos os envolvidos com a criminalidade até mesmo as ongs e os "intelectuais" que usam a criminalidade pomo endosso de seus discursos ou como fonte licita ou ilicita de suas subsistencias... O filme mostra que todos são culpados.
    Pena que alguns só vejam vitimação nos traficantes e não nas demais vitimas do processo. Ou atribuem culpa a uma metafórica elite sem se dar conta que na atualidade somos testemunhas da chegada ao poder de uma nova elite que poderíamos chamar de politiburgo que em nada difere da anterior em seus vícios e posturas. (elementos estes que o filme tropa de elite coloca no mesmo patamar ao comparar a postura da ONG, dos universitários, da policia e política corrupta... demonstrando que até os pretensos mocinhos são violentos) ou seja uma situação na qual a única vitimas não são aqueles que traficam e morrem e sim o povo que esta a mercê do desmando de todas estas facções promotoras da violência até mesmo com posturas pretensamente moralizadoras ou promotoras da paz... ou seja todos tem sua dose de culpa no processo).
    Nas projeções feitas quanto as minhas motivações pessoais para desenvolver a critica elas estão longe de minha realidade pessoal a qual não vem ao caso do presente debate que é acerca do conteúdo critico de um roteiro. Portanto as palavras de ordem chavões de atribuir a uma critica um ressentimento pessoal não traduz a realidade dos fatos.
    O Filme  Tropa de Elite é merecedor de Aplausos, pois não polpa ninguém que tenha culpa no processo. é raro ver um roteiro com tal lucidez de leitura da realidade, a maioria tende para incorporar os chavões de palavras de ordem que estejam na moda da "intelectualidade"... O roteirista deste filme abstraiu um distanciamento a ponto de apontar o dedo em riste como culpado a todos que sejam merecedores de serem apontados como algozes do processo de construção do estado de violência que estamos inseridos.
    Dois adendos:
    - achei curioso o precario equilibrio entre o traficante e a ong... e mesmo a ironia na qual o traficante alegava ter responsabilidade social... e mata os integrantes da ong demonstrando a que veio de fato a dita "responsabilidade social" que era usar a alguns integrantes da ong como agentes de seu trafico de drogas.
    - Realmente nos estamos em um estado de guerra e quais são as regras de um estado de guerra onde os inimigos muitas vezes estão dentro das proprias fileiras que deveriam apoiar o tecido social? Qual codigo rege o comportamento humano diante desta realidade que nos descortina "Tropa de Elite"?
   
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    WELLINGTON R COSTA - EDITOR
      JORNAL VIRTUAL DAS ARTES
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----- Original Message -----
From: xama zen
Sent: Saturday, September 29, 2007 9:20 AM
Subject: Re: [roteiro_de_cinema] Aplaudindo Tropa de elite

Isso e' uma discussao sobre cinema? Roteiro? Linguagem cinematografica?
Heraldo

Vicente Marinho <vmarinho@hotlink.com.br> wrote: Eu gostaria MUITo de entender o que se passa na cabeça de alguém que diz essa frase absolutamente lamentavel que você disse.
"Temos que sempre ver muita humanidade nos criminosos e nenhuma nas reais vitimas?"

Eu retruco com "temos o dever de ser desumanos só por que sofremos?"
Claro que eu faria a mesma pergunta aos bandidos. É indiferente, para mim as duas ações são a mesma.

E esse é todo o ponto, todo o diferencial, a verdadeira luta entre a barbarie e a civilização. Por que diabos, só por que você foi assaltado ou perdeu alguém num ato de violencia, por que diabos você acha justo infligir violência sobre os culpados (ou, sendo honesto, em qualquer preto pobre e favelado, por que sejam francos, é deles que vocês desviam na rua).

Nem mesmo a velha lei do olho por olho está viginte. A gente perde um olho e quer arrancar dois do outro. E os dentes. A gente quer descontar a raiva, sem parar para pensar. Afinal de contas, eles não são humanos. Eles são só animais saguinarios que arrancam vidas, animais que violentam e que agridem. Exatamente como nós fazemos na hora de nossa vingança.

Não é uma questão de quão humano é o bandido, na hora em que exigimos os direitos deles. É uma questão de quão humanos somos nós. Especialmente por que de repente começa a ser normal sair na rua de noite em bando espancando mulheres paradas em ponto de ônibus só por que a gente acha que ela é puta. Cada corpo que saí do alemão é de bandido, mesmo que o numero de armas encontrado seja menor que o de corpos. Quão humanos somos nós, para exigir do outro humanidade?

E lembro a todos aqui, que quem deu asas pro tráfico fomos nós, o asfalto civilizado, que deixamos uma terra sem lei, onde traficante colocava ordem. Foi por que não tinha quem botasse ordem em primeiro lugar, que surgiu este "dono do morro". Não discordo em absoluto que a culpa é da classe média, só não fico no discurso raso de uma acusação aos consumidores. Eu sou classe média, e nunca pus um cigarro de maconha na boca, e como eu conheço vários.

Não culpabilizo cada policial do bope individualmente pelas fatalidades do Morro do Alemão (na verdade, o numero de possiveis civis foi bem baixo, da ultima vez que eu chequei, o que demonstra uma competencia da parte dos policiais da tropa) mas culpabilizo a instituição, especialmente depois dela negar que civis são civis. Os policiais, individualmente, estão em uma situação de risco de vida que nenhum de nós aqui já esteve. Mas nos temos a obrigação moral de assumir os civis atingidos e de não executar bandido rendido. A obrigação moral de não esconder corpo, de não falsificar provas. Nós somos o lado da lei, o lado em que se deve confiar. Se é para ser o lado "humano", que seja em plenitude, e não só quando nos convem.

Vicente Marinho.
(Perdi dois amigos para assaltantes, e dois sobreviveram, um com sequelas pro resto da vida. Todos foram atacados individualmente em casos não relacionados. Eu sei o que é sofrimento, e eu lamento por todos os que perdem algo para a violência urbana. Mas eu me recuso em contribuir para a continuidade dela)

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