terça-feira, fevereiro 26, 2008

Cinema ganha mais investidores

Um topico a ser analizado....

Folha de Sao Paulo, segunda, 25/02/2008.

Cinema ganha mais investidores
Nova regra eleva dedução fiscal de dinheiro investido e incentiva
aplicação na produção de filmes

Investidores buscam filmes de apelo popular para viabilizar retorno
em uma aplicação que até então era vista mais como patrocínio

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Colocar dinheiro em cinema deixou de atrair apenas patrocinadores e
começa a chamar a atenção de investidores profissionais. O bom
momento do cinema nacional e uma mudança na legislação, que permite
maior dedução no imposto do dinheiro aplicado, deram visibilidade
para fundos de investimento em cinema.
O que era visto quase como aplicação a fundo perdido, com expectativa
de retorno zero, transformou-se em um negócio, que busca títulos de
apelo de bilheteria, com potencial de mobilizar recursos e de dar
retorno para o investidor.
O patrimônio dos quatro Funcines, os fundos desta categoria
registrados na CVM, já soma R$ 32,671 milhões e pelo menos mais dois
fundos estão em fase de formação.
Até o momento, os fundos disponíveis são voltados para a pessoa
jurídica, mas o crescimento deste segmento resultará em fundos também
para pessoa física. Hoje, várias corretoras viabilizam o investimento
em cinema para o investidor pessoa física, mas por meio da compra de
certificados de investimento, que funcionam como uma cota direta de
um determinado filme.
Criados em 2001 pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) para
estimular o investimento na cadeia do audiovisual, o investimento
funciona como aplicações incentivadas. As empresas podem ter uma
dedução fiscal correspondente a 100% do valor aplicado até o limite
de 3% do Imposto de Renda a pagar. Para pessoa física, o percentual
sobe para 6%.
"Antes da nova lei, o total que podia ser restituído era de 68% do
dinheiro aplicado. Hoje, a empresa aplica no Funcine, recebe a
restituição total destes recursos e ainda leva uma cota do fundo de
igual valor, que pode se valorizar", diz o presidente da Ancine,
Manoel Rangel.
O RB Cinema 1, da Rio Bravo, é um dos precursores desse tipo de
aplicação. Antes de criar o fundo, a Rio Bravo investiu em filmes
como "Olga" e "Carandiru". Hoje, o fundo investe em títulos como "O
Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, que foi
selecionado para participar do Festival de Cinema de Berlim, "Sexo
com Amor?", de Wolf Maya, que está em cartaz e "Xuxa em Sonho de
Menina".
Não há receita para descobrir os filmes que vão cair no gosto do
público. Segundo Gustavo Catão, analista de investimentos da Rio
Bravo, a seleção leva em conta roteiro, elenco e diretor, entre
outros fatores. A bilheteria é só uma das formas de se ganhar
dinheiro. Os gestores negociam também vendas de DVDs, exibição na TV
e no exterior. "Historicamente os filmes no Brasil não se pagam no
cinema, precisam de outras janelas de exibição também."
Alguns fundos estão em fase de captação de recursos. O mercado é
pequeno, e o BNDES entra como um dos cotistas. O orçamento do banco
para o setor é de R$ 25 milhões.
"Se tivermos bons projetos, ainda podemos ampliar", diz Luciane
Gorgulho, chefe do departamento de Economia da Cultura do BNDES. O
banco investiu em dois fundos. Segundo a Folha apurou, pedidos de
dois fundos são analisados e outros três fizeram consultas.
De acordo com Bruno Wainer, da Downtown Filmes, os fundos são
voltados para o cinema que busca resultado. "A natureza deste fundo é
profissionalizar a relação entre investidores e a produção
cinematográfica. É uma equação que só dá certo se o filme der
retorno", disse. No final do ano passado foi lançado o Funcine Lacan-
Downtown Filmes, uma parceria com a distribuidora.
"A idéia é permitir que uma distribuidora nacional possa concorrer
com as internacionais com o melhor do cinema produzido no país."
Wainer é o distribuidor de "Meu Nome Não é Johnny", um dos maiores
sucessos recentes nas telas.
Os fundos podem aplicar em outros segmentos da cadeia
cinematográfica. Sidney Chameh, da DGF Investimentos, elabora um
fundo com foco na locação de equipamentos. "Vamos investir na cadeia
produtiva do cinema, em produtora, estúdio e equipamentos."
Para Luiz Fernando Castello Branco, do Banco Fator, que tem um
Funcine em fase de captação, há espaço para investimento em novas
salas de cinema. "Apesar de ter crescido o número de salas, há espaço
em cidades de médio porte."
O modelo brasileiro tem semelhanças com o Soficas, fundo francês em
cinema, no qual a aplicação é restituída. Segundo Thierry Perrone,
que acompanhou o renascimento da indústria francesa, a aplicação deve
chegar ao investidor pessoa física no Brasil. "O grande mercado é a
classe média, mas para isso os fundos precisam emitir cotas com valor
menor."

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