Leia isto - Uns pensamentos de momento
Ate este instante foram só ensaios, brincadeiras lúdicas... Amanha começa... Ultima prova de roupas, teste de maquiagem e eu incorporarei Borges, patriarca de um conto de Rui Barbosa que será rodado na Faap, meu primeiro media metragem, em preto e branco... E o primeiro filme que serei ator principal...
Ual... Da um frio na espinha. Todos falam que sou Borges que minha voz é perfeita meus olhares e modos... Entendo Borges, o conheço ate minha alma... Sei como se processa sua fúria, sei como se processa sua candura... Sei por que grita e sei porque ele é doce com sua esposa...
Serei a partir de amanha durante os 7 dias de filmagens Borges... De artista plástico a ator... Lendo os scripts dos demais trabalhos serei também: um traficante e seqüestrador (em um curta)... Depois, um rico jogador de poker, confiante capaz de apostar tudo no que acredita ser a verdade (em um curta)... Um marido Morto que recita Shakespeare para a esposa (em um longa metragem) e a cada dia nos ensaios de teatro sou CALIXTO... O inspetor geral que joga tarot para descobrir a verdade de um crime e se vende pelo vil metal... Mas tem a sensibilidade de tratar com afeto o pobre infeliz o qual vai torturar ate a morte...
To com medo... Mas vocês me conhecem! Eu enfrento ate meu medo... E vou ate o fim de tal script (desta vez não falando apenas de modo metafórico)... E pensar que há um mês atrás nem pensava em voltar ser ator como fora na juventude e tudo o que ocorreu tão rapidamente, os 6 testes, eu sendo o escolhido para 5 vendendo em alguns casos muitos candidatos em outros sendo candidato quase que único...
... E como disse um amigo... "O que você tem a perder? Brinque... divirta-se... você tem tido tão poucas diversões, vai lá e se divirta..." quando o medo aperta é nisso que penso... Vivenciar o jogo cênico, ser o mais profissional que meus talentos e poucas virtudes como ator permitem... Dar sangue e suor o quanto me for possível... Mais que isso, não posso fazer.
Tudo isso nem soa real... Ainda me lembro da solidão da quase morte naquela mesa de cirurgia... Da vontade de urrar por ajuda, da vontade quase incontrolável de pedir colo ou afago de quem eu tenho, sempre tive e sempre terei afeto. Mas minha dignidade não mais me permitia ou permite mendigar por tais coisas e só consigo aceitar o que for urdido de modo natural sem jogos ou suplicas... Fiz bem , pois mendigar por amor, afeto, carinho e coisas do gênero sempre me fez mal a alma. Agora minha alma segue mais livre do que nunca foi na existência... Isso em muitos sentidos é ótimo em outros é impossível deixar de sentir um certo amargor sutil ao velar o cadáver de alguns sonhos natimortos.
Renasci mesmo... Em corpo, em mente, em sonhos... Sorrio diante deste admirável mundo novo... Mas não esqueço jamais a quem meu afeto se liga, mesmo que o tempo e o espaço ditem suas regras atrozes.
... Mas assim é a vida e o viver... Sonhos nascem, sonhos morrem, a gente nasce, a gente morre... E umas poucas vezes como Fênix voltamos à vida mesmo depois de mortos... Curioso é o vestir a plumagem de tal passaro tão raro... Mas nem tão raro assim, pois cada um certamente o carrega a seu modo dentro do peito.
Videm a pinta de Borges com roupas de época... Bem o sei, estou de tênis e falta ainda o chapéu... Amanha estes detalhes farão parte do figurino definitivo...
beijos
Wellington